A Dona do Pedaço: Maria da Paz troca de personalidade mais uma vez
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Escrito por As Noticias, sábado, 24 de agosto de 2019
Maria da Paz (Juliana Paes) buscou consolo em Rock (Caio Castro) depois de dar tapa na cara dele: confusa
Recheada de acontecimentos marcantes, a anunciada "semana decisiva" de A Dona do Pedaço, novela das nove da Globo, serviu não só para movimentar a história, mas também para revelar o que há de melhor e pior na trama de Walcyr Carrasco. Maria da Paz (Juliana Paes) até acordou, mas levou um capítulo inteiro para abrir de fato os olhos. Mesmo depois de flagrar Josiane (Agatha Moreira) com Régis (Reynaldo Gianecchini), a boleira não quis acreditar que a filha mimada fosse a cobra que é.
A ingenuidade excessiva da protagonista não contribui em nada para criar algum tipo de identificação com ela --tem horas que, de tão ingênua, o público chega a pensar que a protagonista merece ser passada para trás. Afinal, ela não consegue enxergar aquilo o que todos ao seu redor veem.
Bondade é uma coisa, burrice é outra. Maria da Paz teve uma trajetória de incoerências. De mocinha romântica na primeira fase a perua espalhafatosa e cafona na segunda. Agora com a virada da história, começa a mostrar uma terceira personalidade que nada tem a ver com as anteriores: a vingativa.
Curioso é que a guerra familiar que a separou de Amadeu (Marcos Palmeira) sempre foi repelida por ela, mas Maria não hesitou em atirar em Régis quando se viu traída. Aqui há outro problema: com o martírio da boleira, Juliana Paes imprimiu um novo tom interpretativo para sua criação, desta vez mais contido, quase sussurrante, o que só aumenta a confusão que é a personalidade mutante da mocinha.
Por outro lado, é inquestionável o talento de Walcyr Carrasco de promover reviravoltas em suas histórias, e ele armou com maestria o conflito entre mãe e filha. A cena em que Josiane expulsa Maria da Paz de casa foi carregada de tensão, e é impossível não se apiedar da mãe que é traída pela própria cria.
O autor prepara a catarse que o público tanto quer ver, e isso aumenta a expectativa para o momento em que o bem finalmente triunfará sobre o mal.
A direção segura de Amora Mautner acrescenta ao trabalho de Carrasco. A diretora sabe trabalhar a tensão existente entre os personagens e, embora não tenha apresentado nada inovador até aqui, também não compromete com cenas desleixadas. Há um apuro estético difícil de ser mantido em um produto tão imediatista como a telenovela. Como exemplo, Régis sendo baleado e o sangue explodindo no ar. Os detalhes na sequência foram precisos.
Ainda assim, o preço de tanta movimentação é um texto feito para crianças da segunda série. Didáticos, primários e repetitivos demais, os diálogos que saem da boca dos personagens são vexatórios.
Um pouco de lapidação não faria mal a ninguém. É constrangedor ver atrizes como Nathalia Timberg (Gladys) e Deborah Evelyn (Lyris) tentando extrair um pingo de verdade dentro das possibilidades que são ofertadas a elas.
Por fim, uma abordagem desnecessária teve espaço sem que nenhum personagem levantasse questão. Possesso por ter sido enganado por Jô, Téo (Rainer Cadete) partiu para cima da digital influencer e, aos berros, afirmou que ela seria sua, em um princípio de estupro. O ato só foi interrompido porque Evelina (Nívea Maria) e Ellen (Rosane Gofman) chegaram a tempo --embora nenhuma das duas tenha contestado a atitude destemperada do fotógrafo.
É fato que Josiane merece ser punida, mas em tempos nos quais feminicídios ganham espaço nos noticiários, uma cena como essa se mostra completamente desnecessária. Além disso, a conduta violenta de Téo não condiz em nada com a personalidade doce que ele tinha apresentado até então.
A Dona do Pedaço não pode em momento algum ser acusada de marasmo, mas também está longe de ser um produto de qualidade. A trama de Maria da Paz é envolvente, mas sofre com abordagens e diálogos completamente equivocados. É uma pena, pois a novela das nove tinha tudo para ser uma grande trama.
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